Trasporti
Entrevista a Ricardo Quintas, fundador e CEO da Adamastor
A Adamastor surge em 2015 no seguimento de um objetivo inicial de fomentar parcerias entre o mundo académico e o mundo empresarial visando o desenvolvimento de novas tecnologias com assinatura totalmente portuguesa. A investigação realizada pelas universidades seria, no âmbito deste projeto, subsidiada pelas empresas. A Adamastor é o produto final desta ideia, a de aproximar duas vertentes indissociáveis, mas, por vezes, algo distantes. O desenvolvimento de um automóvel foi o caminho escolhido para esse fim.
A equipa começou por ser formada pelos sócios. Por mim e pelo Nuno Faria . Mais tarde juntaram-se a nós o Frederico Ribeiro e o Ricardo Ribeiro . Numa fase posterior chamámos outros engenheiros e mecânicos do meio universitário, ou que já conhecíamos, para engrossar as fileiras da empresa. A angariação de reforços acompanhou sempre as necessidades de evolução e de aquisição de novos conhecimentos técnicos. Metade da equipa é composta por ex-alunos formados na universidade e a outra metade constituída por técnicos especializados com elevada experiência adquirida no mercado. Estabelecemos, igualmente, parcerias com o INEGI e com a FEUP para fortalecer a nossa capacidade técnica e ir, assim, mais longe. A equipa Adamastor é composta, neste momento, por catorze elementos.
Uma marca de volume obrigava a um investimento muito maior em várias áreas. Teríamos de competir com a Renault, a Citroën, ou a FIAT e iria exigir a construção de fábricas enormes. E depois há a questão do preço. Eu seria obrigado a propor algo verdadeiramente barato para conseguir entrar no mercado. Assim, decidimos apostar num setor de nicho, um produto raro, único, tecnologicamente avançado, em que o preço não é questão, mas sim a exclusividade e a
performance. Com este investimento estamos a colocar a Adamastor no expoente máximo da tecnologia automóvel, a produzi-lo à mão, longe dos grandes volumes. Visitei recentemente a Ferrari e fiquei a saber que têm capacidade para produzir 61 automóveis por dia. Mas o nosso objetivo é produzir 25 automóveis por ano e que cada um deles seja feito em exclusivo por uma equipa, do início ao fim. O cliente, assim, conhece as pessoas que construíram o seu carro e pode dirigir-se a elas na eventualidade de qualquer problema. Queremos oferecer ao cliente a tecnologia mais recente. A nível aerodinâmico, por exemplo, no que diz respeito ao efeito de Venturi e efeito de solo, a Adamastor tinha já desenvolvido em 2019 tecnologia equivalente à utilizada atualmente na Fórmula 1. Para o conseguirmos, termos de nos adaptar às constantes mudanças e evoluções, por exemplo, ao nível das exigências da legislação de homologação. Queremos, também, ser um fornecedor de tecnologia para o mercado. Temos como objetivo licenciar e vender a tecnologia por nós desenvolvida ou através de parcerias.
A eletrificação do automóvel é uma solução da atualidade. Pode não ser uma solução para o futuro. São vários os operadores que defendem que o atual crescimento da dependência de baterias está a criar um problema maior do que aquele que se pretende eliminar. Mas a Adamastor tem uma grande vantagem ao ser uma estrutura relativamente pequena, a sua grande capacidade de reação. Nós conseguimos, se necessário e de forma rápida, transitar de um sistema de propulsão para outro, até porque não os desenvolvemos. A Adamastor desenvolve, isso sim, chassis e carroçarias. O propulsor é obtido externamente. Temos por isso uma grande e versátil capacidade de adaptação às exigências do mercado. Quanto à possibilidade de termos no futuro um supercarro elétrico, é importante fazer a distinção relativamente a um automóvel comum, um veículo para nos levar de A a B. Um supercarro visa o prazer de condução. É óbvio que há automóveis elétricos impressionantes, mas falta-lhes qualquer coisa. Falta-lhes o rugido. Sem essa vertente, é só um carro muito rápido e de visual agressivo.
A minha paixão pelos automóveis começou em 1973, quando o meu Pai me ofereceu um carrinho a pedais. Lembro-me perfeitamente de ter dito aos meus amigos, na rua onde vivia: "Um dia vou por um motor neste carrinho." Demorou 50 anos, mas estou a cumprir com aquilo que lhes disse. Depois de ter carta de condução, sempre tive carros pequenos e baratos e aquele do qual tenho mais memórias é um VW Golf que comprei usado. Foi o melhor carro que tive e que me ficou no coração. Ao longo dos anos nunca investi muito em automóveis, até porque não o podia fazer, pois a vida trouxe-me outras prioridades. Assim, fui poupando para que um dia pudesse ter o carro dos meus sonhos, os quais guardo hoje na minha coleção e que utilizo pontualmente. Neste momento tenho um Mercedes-Benz 190 SL de 1955, todo restaurado, bem como um Porsche 911 GTS de 2015. Porém, o verdadeiro sonho é ter um carro feito por mim, pela minha equipa, um carro português.
O plano de negócios da Adamastor prevê entregar já em 2025 dois carros de estrada e outros dois em versão de competição, embora a capacidade instalada prevista pela Adamastor seja dos já referidos 25 automóveis/ano, a qual estimamos implementar já em 2026. Isto para além do fornecimento de peças de reposição e substituição. A Adamastor vai sempre produzir séries limitadas a 60 unidades dos seus modelos.
Numa primeira fase, e por questões relacionadas com a homologação, a Adamastor pretende instalar-se no mercado europeu e dos Emirados Árabes Unidos. Posteriormente, o objetivo é, obviamente, expandir para o mercado dos Estados Unidos da América, para a América do Sul, Oceânia e Ásia.
Não vamos investir em showrooms. Vamos investir, sim, em serviços, de forma que quem compra um Adamastor, tenha acesso a um serviço transversal e integrado. Os automóveis da Adamastor vão ser vendidos exclusivamente na sua fábrica, onde o cliente poderá configurar o seu supercarro ao seu gosto. E, quando for necessária uma intervenção de manutenção ou reparação, é a Adamastor que vai ao encontro do cliente e não o contrário, como é habitual. A equipa desloca-se até junto do veículo e faz uma avaliação dos possíveis danos. Se necessário, é proposto fazer o transporte para a fábrica da Adamastor para que o veículo seja recuperado até ao seu estado original. No caso de uma reparação ligeira ou operação de manutenção, e se existirem condições para tal, a intervenção pode até ser feita em casa do cliente.
Nós identificámos três tipos de cliente. Desde logo, o colecionador de automóveis exclusivos, um cliente que aprecia o automóvel como uma máquina que, tal como uma obra de arte, irá, eventualmente, valorizar. Não só em termos de valor financeiro propriamente dito, dado tratar-se de uma edição muito limitada, mas, também, valorizar a sua coleção privada. Por outro lado, existe também o cliente que é amante da alta performance, do segmento exclusivo dos supercarros e que pretende usufruir de uma máquina que é, no fundo, um Fórmula 1 com carroçaria e matrículas e ainda o condutor que, pontualmente, quer usar o seu supercarro em pista, por exemplo, participando em track days.
O nosso estudo de mercado tem a nossa concorrência bem identificada. Desde logo a Aston Martin e o seu Valkyrie, mas também marcas como a Pagani, a Koenigsegg, a Rimac, semesquecer outras como a Mercedes-Benz, Audi, Porsche e Ferrari na categoria dos supercarros. Iremos propor algo, em termos de performance, muito semelhante, mas com uma abordagem "keep it simple", uma proposta verdadeiramente competitiva.
A Adamastor irá conceber dois modelos, um de estrada e outro de competição. Esta é uma vertente extremamente importante para nós, pois é uma forma de mostrarmos ao mercado que não somos apenas mais uma marca. Desde logo, por sermos uma marca portuguesa, um país com pouca presença na indústria da produção automóvel e por isso nada melhor do que levarmos o nosso produto para pista, para o meio dos chamados "tubarões", de forma a mostrarmos a performance, resistência e resiliência do produto Adamastor. A competição tem, assim, dois importantes contributos. Por um lado, mostrar que a Adamastor deve ser tida em consideração pela qualidade e performance dos seus automóveis, mas, por outro, servirá também para os desenvolver. Digamos que estar no campo de batalha forçar-nos-á a melhorar e encontrar soluções mais eficazes e eficientes. Os showrooms da Adamastor serão, assim, as pistas dos circuitos mundiais.
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